Geração Playstation

Garoto com a camisa do Barcelona,
a camisa infantil de futebol mais vendida,
em 2014, no Brasil
Depois de zapear o Facebook, me deparo com uma publicação do velho amigo/debatedor dos tempos de orkut e hoje comentarista da ESPN, André Rocha com uma reportagem da Carta Capital (veja aqui) sobre a Geração Playstation. A própria Carta Capital (veja aqui) e até a grande revista Placar (veja aqui) comentaram sobre o assunto e a nova tendência, que já nem é tão nova assim, dos jovens brasileiros migrarem suas torcidas para clubes europeus.

Como nordestino, essa tendência já existe na minha região à décadas, desde a popularização do rádios anos 30-40. Com a regionalização da televisão no fim dos anos 90, os estaduais sendo transmitidos para seus estados respectivos nas telinhas de todo mundo, as divisões inferiores ganhando atenção, os torcedores locais ganharam mais força, as torcidas dos clubes de fora diminuíram, especialmente nos três estados mais tradicionais da região (Ceará, Pernambuco e Bahia).

No início dos anos 90, as emissoras começaram a transmitir o futebol europeu, o velho continente começou a realmente investir e as diferenças econômicas dos continentes realmente começaram a fazer diferença, o Brasil e a Argentina até meados dos anos 2000, ainda conseguiam rivalizar com algumas poucas equipes, mas era difícil manter uma base, e a força financeira logo engoliu. Esse ano chegaremos ao décimo segundo mundial de clubes. O primeiro em 2000, foi decidido entre os brasileiros Corinthians e Vasco, os europeus eram fortes, os brasileiros tão fortes quanto, mas por não levarem a sério a competição, não deu para levar tão a frente a questão da força de cada na época.

Desde 2005, quando virou anual, o Mundial da FIFA só teve três sul-americanos campeões (São Paulo em 2005, Internacional em 2006 e Corinthians em 2012), e os três precisaram de retrancas ferrenhas e preparação de meses para conseguir tais feitos. Em duas oportunidades (com o Internacional em 2010 e Atlético Mineiro em 2013), nem na final os sul-americanos conseguiram chegar, os europeus ganharam as outras 7 decisões, sendo 5 em cima de sul-americanos.

A nova geração tem razão em torcer pelos clubes estrangeiros. Os estádios com exceção dos que foram para Copa e uma meia dúzia de arenas, estão defasados. O transporte é ruim, o ingresso é caro, o espetáculo é chato e monótono na maioria das vezes. Mas me parece que a nova geração também é mimada, não se importa com futebol e sim com status, na primeira reportagem citada, da Carta Capital, o garoto de 8 anos, Ugo Altobello disse: "Achei muito chato, não tinha nada pra fazer além de ver o jogo". Me perguntei por um bom tempo o que essa criança queria fazer em um estádio de futebol, se não ver um jogo. Claro, temos que evoluir, trazer novas atividades pro estádio e os clubes brasileiros tem que prestar atenção nisso, mas querendo ou não, isso não é vital, seria apenas um atrativo a mais, não algo essencial e parece existe um problema nessa questão em que o público jovem já é chato demais e os clubes que deveriam proporcionar isso, são antiquados demais.

Nosso futebol está ruim, os clubes estão fracos, os preços caros, as torcidas arrogantes e mal acostumadas, a CBF e as emissoras parecem não perceber o tesouro que ainda tem em mão, e no fim, todos vão sair perdendo, em nome de um passado glorioso que fica cada vez mais distante e de uma forma de fazer futebol que já está mais do que ultrapassada e se diz correta porque ainda existe um domínio dentro do ainda mais atrasado, futebol sul-americano.

Por Luca Laprovitera

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