BOTAFOGO - Entrevista com Bernardo Santoro, Vice Presidente de Finanças do Botafogo

Bernardo Santoro, Vice Presidente de Finanças do Botafogo
Olá Leitor do Blog, hoje retorno ao blog.

Fiz essa entrevista com o Bernardo Santoro, uma entrevista focada em finanças e sobre o futuro do futebol no Brasil.

Acredito que cada vez mais o futebol precisa ser profissionalizado e focar mais em gestão séria e com comprometimento de futuro. O Botafogo hoje em minha visão está indo em um caminho correto, portanto, escolher o Vice Presidente de Finanças do Botafogo faz que uma pessoa ligada ao meio do futebol passe aquilo que realmente pode ser uma das soluções.

Agradeço ao Bernardo que aceitou e respondeu a entrevista rapidamente.  E desejo toda sorte do mundo ao BOTAFOGO que de fato é um dos grandes clubes do Futebol Brasileiro.




1 ) Conte para nós sobre você. O que faz e como chegou a Vice Presidência de Finanças do Botafogo

R: Sou advogado de formação (UERJ/2006), com pós-graduação em economia (UERJ) e Mestre em Direito (UERJ). Sou professor de economia política e direito falimentar na UFRJ, Diretor-Executivo do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e presto consultoria de políticas públicas e análise econômica do direito. O convite para a VP de Finanças veio, claro, do nosso Presidente Carlos Eduardo Pereira, de quem sou amigo e de quem fui parceiro e aliado na luta contra Maurício Assumpção e sua gestão caótica desde que nos conhecemos, em 2010.


2 ) Todos nós sabemos da dívida do Botafogo. Qual trabalho está sendo feito? E o clube terá condições de quitar toda sua divida em quanto tempo? E vocês acreditam que no futuro com a entrada de novos dirigentes eles seguirão todas propostas da gestão atual?


R: Podemos dividir a dívida do Botafogo em três tipos: trabalhista, tributária e cível. A dívida trabalhista foi equacionada através do ato trabalhista, onde faremos o pagamento planejado ao longo de dez anos. Sobre a dívida tributária, estamos atualmente em vários "Refis" (instrumentos de parcelamento de dívidas tributárias), que queremos unificar com algum desconto em multas através da nova Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte (cuja MP ainda precisa ser aprovada no Congresso). A dívida cível está sendo renegociada credor a credor. Vamos ainda fazer uma reforma estatutária para impor responsabilidade pessoal para dirigentes que praticam ações temerárias e real responsabilidade fiscal, impedindo que o clube gaste mais do que arrecada por ano, além de democratizar o acesso ao clube. Na parte das receitas, nosso Departamento Comercial está implementando inovadoras técnicas para arrecadação de recursos pelo marketing. Aguardem novidades nesse campo. E vamos rediscutir a disparidade nas cotas televisivas entre os clubes da primeira divisão, que hoje pode vir a promover a espanholização do futebol brasileiro, com apenas dois clubes grandes. Isso não será permitido pelo Botafogo.


 3 ) Na sua visão. Qual seria a melhor saída para administrar clubes de futebol no Brasil, já que todos eles tem problemas de gestão.


R: Quanto mais instrumentos típicos de governança corporativa e responsabilização pessoal dos dirigentes, melhor. E, é claro, profissionalização com plano de metas.


 4 ) Sobre a MP que o BOM SENSO quer que seja aprovado no Congresso Nacional. Qual é sua opinião?


R: A MP tem muitos pontos positivos, mas também tem vários pontos negativos. Para o Botafogo, especificamente, nos dá um alívio imediato grande. O Refis unificado faria com que os custos de pagamento das dívidas tributárias do clube diminuíssem em pouco mais de um milhão de reais mensais, nos primeiros três anos de parcelamento. No cenário atual, não sei até quando o clube terá fôlego para arcar com essas despesas, pois nosso fluxo de caixa atual é bastante precário. As partes negativas serão apresentadas ao relator da MP no Congresso pelo departamento jurídico do Botafogo, com nosso auxílio.


5 ) O Futebol Brasileiro tem um problema enorme de calendário para os clubes menores. Devido tal questão muitos clubes pequenos quando encerram os campeonatos estaduais são desmontados e não conseguem mais gerar receita por isso tornam-se economicamente inativos com o produto futebol. Qual seria a solução para resolver o financeiro destes clubes?


R: Certamente que os clubes sem divisão nacional precisariam da criação de algum torneio local para manterem suas atividades no segundo semestre. No Rio de Janeiro temos a Copa Rio, por exemplo.

Mas sou cético quanto à viabilidade econômica desses torneios, que precisam ser sustentáveis. O processo de elitização do futebol brasileiro foi aprofundado nos últimos anos com o encarecimento exponencial do dia de jogo. São muitas regulações estatais, tais como normas de segurança, normas médicas, Estatuto do Torcedor e direitos trabalhistas com normas de proteção ao atleta, fruto de um debate público gerado por alguns acidentes e mortes em campo.

Eu, particularmente, duvido que haja um retrocesso nesse campo, e nesse caso somente quem pode arcar com os custos de realização de um espetáculo desse porte é que sobreviverá, o que significa a prevalência de clubes médios e grandes.

Além disso, por mais que haja má-gestão dentro dos clubes de futebol, não é normal um ambiente tributário que consegue fazer com que clubes com receita anual de 150 milhões de reais chegue a ter um passivo fiscal com o triplo desse valor. No entanto, esse debate não tem sido feito na reforma do futebol brasileiro. Se para um clube grande já é difícil, essa questão tributária inviabiliza o clube pequeno.


 6 ) Como tornar os campeonatos estaduais novamente atrativos e com bom retorno financeiro aos clubes?


R: Redução de times e redução de preços de ingressos. Quando alguém me pergunta qual o modelo ideal de campeonato, eu sempre respondo que esse modelo já foi testado e aprovado.

O Campeonato Carioca de 1999 teve apenas 10 clubes, disputando jogos de ida e volta, com os dois campeões de cada turno disputando uma final. O campeonato foi patrocinado por um jornal carioca que subsidiou os ingressos, que eram vendidos a 3 reais em qualquer banca de jornal na porta da casa dos torcedores, usando a rede de distribuição mais eficiente da cidade. O resultado foi a maior média de público da história do Campeonato, com 26.885 torcedores por jogo e um campeonato empolgante com forte apelo de mídia.

Infelizmente, no Brasil, os maus modelos são copiados e os bons são esquecidos. Eu não me esqueço.


 7 ) Sua visão sobre o futuro do futebol no Brasil. O que devemos melhorar e o que os clubes precisam entender para crescer o esporte como negócios em nosso País.


R: Menos tributos e mais responsabilidade pessoal dos dirigentes em caso de má-gestão, além da implantação de um modelo de profissionalismo na gestão dos clubes, com due diligence, transparência e accountability, entre outros fatores de boa governança corporativa . Clubes não podem gastar mais do que arrecadam.

O torcedor deve ser encorajado a participar da vida cotidiana do clube, e o sócio-torcedor com direito a voto é essencial na democratização e transparência das gestões, o que pretendemos implementar no Botafogo com a reforma estatutária que vamos pôr em discussão.

E a elitização do futebol promovida pelo Governo e pelos clubes deve ser rediscutida, pois a população nacional não consegue arcar com os custos desse encarecimento, sobrando cadeiras desocupadas em estádios modernos e contas bancárias de clubes vazias. Investimento em futebol de base é essencial.

Por fim, é bom olharmos para os modelos de sucesso do exterior e, naquilo que for possível replicar aqui, fazê-lo sem ignorar as peculiaridades do nosso futebol.

Um grande abraço para todos os botafoguenses e demais torcedores.

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