Olá leitor do Blog, estou voltando hoje a reescrever, estive com compromissos pessoais e profissionais que levaram-me a estar ausente. Agora estou de volta. Farei uma série aqui sobre o futuro do esporte brasileiro. Porém, antes disso, resolvi ir pesquisar uns textos e acabei encontro esse excelente texto que encontra-se na página do LIBERDADE E FOCO - Em sua seção esportiva. E hoje deixarei ele na integra e segunda feira voltarei e explicarei a minha visão sobre os rumos dos esportes no Brasil
O artigo foi muito bem escrito pelo Colunista Vinicius dias
Somente o esporte estatal é Pão e Circo
A expressão latina “Panem et Circenses“ (ou “Panis et Circenses”, dependendo da declinação) é uma expressão amplamente conhecida. Ela se originou numa tradição do Império Romano onde haviam as lutas de gladiadores. Tais lutas ocorriam em anfiteatros e era oferecido pão à população como “generosidade” do imperador. Sociologicamente, essa prática é entendida como uma manobra de populismo e alienação.
Hoje em dia não há mais lutas de gladiadores, mas ainda há anfiteatros (estádios). Os espetáculos que os ocupam como em Roma são os esportes contemporâneos, como o futebol, o basquete, o futebol americano, o atletismo etc. Há pessoas que dão um passo além da questão arquitetônica e dizem que os esportes se tratam do mesmo fenômeno social de pão e circo.
Um caso recente onde tal ponto foi suscitado amplamente, foi na Copa do Mundo do Brasil, ano passado. Em seus protestos, as pessoas alegavam que a Copa era ilegal. Algumas dessas pessoas simplesmente pensavam que era devido ao evento ser financiado com dinheiro público. Outras, afirmaram que o esporte no todo se trata de pão e circo e aliena a sociedade.
Quero debater aqui, então, essa noção de alienação que parece ser essencial ao pão e circo e esclarecer o assunto. É difícil saber que tipo de grupo precisamente faria tais alegações, pois os protestos agregavam formas bem heterogêneas de se pensar. Mas é seguro dizer que, no segundo caso, pessoas contra o livre-mercado disseram tais coisas, e provavelmente, simpatizantes do marxismo.
Entendendo o termo “alienação”
Entender a teoria de alienação dos mais diversos autores marxistas não é tarefa fácil. Seus pensamentos são obscuros e desprezam uma construção textual amparada pela lógica, tornando o estudo desagradável e ineficiente. Não posso fazer nenhum comentário profundo sobre qualquer teoria de alienação marxista (aqui também penso nos marxistas de Frankfurt), ou mesmo o que querem dizer com esse conceito. Porém, podemos fazer um uso do significado recorrente de alienação, pois de certa forma tais filósofos ainda se atrelam a ela ( já que sua conceitualização é apenas uma evolução histórica desse significado mais velho e comum).
Uma pesquisa léxica indicará que os dois significados mais comuns para o termo aqui citado são: 1 – perder a si mesmo, perda da consciência, perturbação; 2 – perda de bens, perda daquilo que lhe é próprio¹. É bem possível que o primeiro significado possa ter vindo do segundo, pois se analisarmos bem, a alienação no sentido psicológico remete a uma perda da propriedade da mente, um bem tal como outro. Desse modo, podemos dizer que a alienação é simplesmente uma subtração na propriedade de um ser humano.
As correntes marxistas provavelmente não discordarão da alienação como uma subtração, porém, por carecerem de uma teoria rigorosa da propriedade, usarão termos confusos como “perda do ser”, “perda daquilo que se é”.
A alienação vantajosa: a troca voluntária
Bom, ao tratarmos o termo isoladamente, parece que se trata exclusivamente de um conceito negativo e ruim. Porém, um estudo mais cuidadoso mostrará que isso nem sempre é verdadeiro, considerando-se que há alienações vantajosas.
Antes de continuar, é preciso relembrar alguns princípios básicos da economia: um ser humano age através de meios escassos para atingir um fim, fim esse que ele supõe estar em um grau maior de satisfação do que o anterior. Esses fins são subjetivos, juízos de valor do próprio agente.
A alienação não entra em conflito com esse axioma fundamental da economia. Na verdade, tal axioma até prevê que acontecerão cessões de propriedade, ocasionando o alcance de um grau mais elevado de satisfação. Eventualmente, ao perdemos algo, podemos ganhar algo que consideremos de maior valor. É assim que o mercado funciona. Um agente A tem o produto a, e o agente B o produto b. O A prefere b em relação ao a, enquanto o agente B, prefere o produto a em relação ao produto b. Tendo a informação que o outro possui aquele bem que mais preferem, realizarão a troca e ambos saíram ganhando, pois a troca realoca os produtos para aquelas pessoas que mais o valorizam.
Nesse ponto, podemos entender melhor porque o termo alienação para os marxistas é sinônimo de algo ruim. O termo supõe o mais-valia, onde os valores dos produtos são objetivos e alguém necessariamente perde numa troca. Como a escola austríaca vem mostrando ao longo do tempo, esse pensamento é falso e alienar-se de bens em troca de outros é uma atividade necessária e benéfica.
O esporte livre
Já temos condições necessárias para refutarmos aqueles que criticam os esportes alegando que são alienantes. Seu conceito de alienação é bem pobre, tudo isso por causa de conceitos carentes de complemento sobre a propriedade e a economia.
Se um consumidor deseja pagar para assistir a um jogo (ou talvez nem pague, talvez assista pela internet ou através de alguma canal gratuito) e alguém oferece tal transmissão ou mesmo um lugar no estádio para ele, não há nada que possamos afirmar para mostrar alguma invalidade ética dessa ação. Nessa sua preferência pessoal pelo esporte, é um desejo unicamente dele, uma escolha pessoal onde tal agente estará melhorando sua satisfação.
É válido lembrar da questão da informação empresarial. Um mercado totalmente desobstruído gera informação. O espetáculo do esporte poderá se tornar cada vez maior, geralmente cada vez mais satisfação ao consumidor, além de até mesmo gerar preços mais acessíveis. Porém, essas não são as únicas informações geradas pelos negócios esportivos.
Há ainda os recursos humanos, os atletas que treinam e jogam. Os seus esforços para atingir a vitória também trarão progressos em áreas não-puramente esportivas, mas reaproveitáveis em outros ramos. Me refiro especialmente à medicina esportiva, a qual, sem os esportes, faria com que os médicos dificilmente saberiam tanto de como tratar lesões (sejam musculares ou até fraturas), questões de recuperação física, prevenir os machucados e até mesmo fortalecimento que pode ser necessário em outras atividades. Isso porque só falei dessa questão medicinal. Poderia ainda falar da questão nutricional, mais uma área onde o esporte contribui de forma inestimável, além de alguns negócios mais periféricos, como a engenharia e arquitetura envolvida nos estádios, publicidade esportiva etc.
O esporte é sobretudo uma atividade lúdica, mas nem por isso ele não gera valor e conhecimentos importantes para as áreas de importância mais vital ao ser humano.
O esporte com intervenção
Numa troca voluntária pode acontecer do agente mudar seus juízos de valor no futuro e se arrepender de sua troca anteriormente efetuada. Ninguém é capaz de dizer com certeza o futuro nessa questão subjetiva, não há nada quanto se fazer a isso, pois se fôssemos proibir algum tipo de troca, teríamos que proibir todas as trocas segundo a regra de universalização, sendo que proibir uma troca em particular seria uma conceitualização arbitrária. Somente permitir o risco de se arrepender é um imperativo praticável. De qualquer forma, no momento da troca, podemos afirmar com certeza que os envolvidos creem ganhar alguma satisfação de alguma maneira.
De outra maneira, caso um criminoso lhe retire o dinheiro a força, entraremos num caso de alienação negativa, onde a pessoa perde uma propriedade sem ganhar nada, contra sua vontade e ainda tal alienação acontece por uma ação deliberada de um agente, que poderia ser evitada. Se o criminoso quiser crescer e ganhar legitimidade, uma estratégia que se mostrou historicamente boa é redistribuir um pouco do dinheiro roubado.
Tal criminoso é o estado. Ele rouba através de impostos e redistribui um pouco de forma a agradar suas vítimas. Esse serviço prestado por ele é considerado unilateral, ao invés das trocas voluntárias que são bilaterais. É assim chamado pois tais serviços dependem unicamente dele, já que sua fonte de renda não é ganho pela prestação desse serviço, mas graças a um roubo anteriormente feito. Péssimos negócios poderão ser feitos, inclusive os bem conhecidos “elefantes brancos”, estádios que não são lucrativos e inúteis. A população inicialmente tomará como uma boa ação, mas esse tipo de ação é muito mais maléfica do que tentar passar uma imagem boa para as vítimas. Jouvenel teve um insight brilhante ao afirmar: “A redistribuição de renda na verdade é redistribuição de poder”². Na verdade, nunca passou disso. O prejuízo financeiro é unicamente dos agentes produtores, os seres humanos fora do estado. Os políticos nunca perdem de fato ao fazerem dívida, pelo contrário, conseguem ganhar ainda mais poder sobre as pessoas.
Essa artimanha em menor grau acontece igualmente em organizações privadas que recebem dinheiro estatal. Valerá de certa forma a questão do monopólio, onde uma empresa diminui a qualidade de seus serviços e aumenta os preços. Os times que possuem benefícios estatais, poderão fazer maus-negócios (não atender devidamente a demanda do consumidor) que mesmo assim não serão punidos (entrar em falência) pelo mercado.
Conclusão
O esporte livre de intervenções é totalmente saudável e benéfico às pessoas, criando riquezas e também gerando sabedoria em outros setores como o bem-falado caso da medicina. Já o esporte com dinheiro estatal destrói riquezas, não consegue gerar informações tão bem quanto o esporte livre e ainda por cima aumentam o poder do estado. O esporte com intervenção é o autêntico herdeiro da tradição de pão e circo romana, onde nossos políticos não perdem em nada aos violentos ditadores romanos!
[1] Foram usados vários dicionários para essa conclusão, dentre eles, alguns dos mais importantes: Michaelis Português Online e Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira, 1971, Editora: Civilização brasileira;
[2] Bertrand de Jouvenel; Ética da Redistribuição (São Paulo, Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2012), Capítulo: Redistribuição de poder dos indivíduos para o estado, pág 72.