Pôster da Seleção Brasileira na Copa de 1970, com comissão técnica, algo inédito na época |
Pelé jogou grande parte da carreira no Santos, entre 1956 e 1974, o mineiro de Três Corações jogou oficialmente 656 jogos e marcou 643 jogos, mas em seus anos finais, o jogador já vinha bastante aquém do que um dia fora, entre 1970, até sua saída do Peixe, apenas em uma temporada, Pelé fez mais do que 14 gols que foi em 1973, quando marcou 30 gols.
No Cosmos, insistem em dizer que o brasileiro é o maior jogador, gênio e tudo mais. Pelé jogou 107 vezes, marcou 64 gols e ganhou uma Liga Norte-Americana em sua despedida. A mídia, a propaganda, fazem o mineiro ser mais lembrado, só que no hall de importância do New York Cosmos, um jogador está acima e se chama Giorgio Chinaglia. Foram quase 200 gols do italiano que ficou na equipe americana até ela acabar. Chegou um ano depois de Pelé, que na primeira temporada nas terras do Tio Sam, sequer levou o Cosmos até as quartas-de-final. Na segunda temporada foi até as semifinais da Conferência e Pelé foi o MVP, decisão bastante criticada na época, já que o português Eusébio disputou a artilharia e ainda comandou o seu time até o título e em sua despedida, viu Chinaglia decidir e marcar o gol do título.
É inestimável, a importância de Pelé, mais uma vez escrevo, é o melhor de seu tempo, mas o colocam como um ser alienígena, incomparável, inalcançável, em um pedestal que ninguém pode almejar. Uma das razões são os três títulos de Copa do Mundo. O primeiro em 1958, com cinco gols, dois deles só na decisão, sendo um deles uma pintura na grande final, quando Pelé só tinha 18 anos. Um belo início para o jogador que tinha um esquadrão ao seu lado e ao mesmo tempo via a Hungria destroçada pós-guerra sem Seleção e uma Alemanha em transição. Em 1962, a equipe era praticamente a mesma e foi novamente campeã, dessa vez sem Pelé que só esteve em uma partida e meia, viu Garrincha, erros grosseiros de arbitragem e uma suspensão não cumprida ajudarem a Canarinho a ser campeã. Em 1966, Pelé tomou uma banho de Eusébio que vivia seu auge, quando a impressão culpa a selvageria os defensores e ignora a grosseira da dupla Brito e Fidélis em cima da esquadra portuguesa.
Outro fator a se lembrar, era a superioridade física dos brasileiros na época. Éramos o país que mais investia em futebol, principalmente no início da ditadura. Desde os anos 50, tínhamos uma comissão técnica com fisioterapeutas, massagistas, médicos, até nutricionista tinha, confirmado inclusive pelo principal historiador da Seleção Brasileira, Airton Fontenele em suas pesquisas. O Brasil, também sempre chegava aos mundiais em meio de temporada, enquanto as Seleções Europeias chegavam em fim, normalmente desgastados. O Mundial onde se foi mais visível, foi o de 1970, o Brasil chegou dois meses da Copa ao México, se preparou e além das vantagens físicas, estava acostumado com a altitude quando o torneio começou. A diferença física era grosseira, tanto que marcou treze dos vinte gols no segundo tempo, sofrendo cinco dos sete gols tomados no primeiro tempo. A qualquer um que assista os vídeos da Copa do Mundo de 1970, irá notar a gritante diferença física entre o Brasil e as demais seleções.
O futebol evoluiu sim, as chuteiras são mais leves, os campos melhores, os juízes até podem marcar mais e tudo que melhorou, mas melhorou não só para Messi, Cristiano Ronaldo, Ronaldinho, melhorou para Paulo Almeida, André Luís, Michel Salgado, melhorou para todo mundo, como quando era com Pelé era ruim ou bom para todos. Aos invés de comparamos jogadores de épocas diferentes, onde o próprio esporte era praticamente outro, é melhor respeitar cada qual em seu tempo.
Por Luca Laprovitera