Mata-mata e o retrocesso do futebol brasileiro

Com Diego e Robinho, o Santos foi o último
campeão dos pontos corridos.
Dos onze clubes que se pronunciaram em favor da volta do mata-mata, oito deles já foram rebaixados no atual sistema de disputa (tendo um deles salvo pelo tribunal). Desde 2003, quando o sistema de pontos corridos foi implantado, seis equipes foram campeãs do Brasileirão. Os números são os mesmos do sistema anterior, a cada dois anos um novo campeão, no mata-mata foram dezesseis campeões (considerando o Sport) em trinta e duas edições, nos pontos corridos foram seis campeões em doze edições.

Horas atrás tive a sorte de ler uma postagem no blog do cruzeirense no site da ESPN, feito por um rapaz chamado Bennão. Nela se falavam dez motivos para não voltar o mata-mata e o que mais me chamou atenção foi o décimo que dizia assim: "Por lei (inciso II do artigo 8 da Lei 10.671 - Estatuto do Torcedor), os clubes terão que participar de pelo menos uma competição em nível nacional onde todos os jogos serão conhecidos de forma antecipada, ou seja, pontos corridos. Ou mudam a lei, ou criam outra competição nacional por pontos corridos. Não é tão fácil voltar ao passado, não é mesmo?." Logo, a CBF estaria quebrando uma lei retornando ao antigo sistema, um total desrespeito não só ao torcedor como as leis.

Com mata-mata, muitos torcedores deixarão de ir pros estádios, os ingressos já são caros normalmente, os times ruins, no pensamento do torcedor-consumidor, é melhor pagar só na fase final. Os pontos corridos tiveram em 2004, a pior média de público da história do Brasileirão (7.556 torcedores por jogo), mas de 2005 para cá, as médias sempre se mantiveram maiores do que pelo menos metade dos anos 90 e do que a parte final dos anos 80. Vale lembrar que não existem mais gerais, nem horas do pobre, os ingressos ficam cada vez mais caros e apesar do conforto, da modernidade, os clubes precisam de cada vez mais dinheiro e ficam cada vez mais custosos no bolso do torcedor para conseguirem serem competitivos e segurarem suas estrelas do mercado estrangeiro. 

Outro fator negativo é que tendo um Brasileiro onde, por exemplo, oito equipe iriam para a Fase Final, outras doze ficariam sem jogar por pelo menos dois meses. Como se mantém um clube pagando jogadores, comissão técnica, tendo sócios querendo jogos de apelo, com dois meses sem calendário? O rodízio, as dívidas e a falta de interesse seriam bem maiores.

E as cotas de televisão? Como seriam feitas? Se nos pontos corridos ela já é desleal com os clubes pequenos, no mata-mata seria mais ainda selvagem no parecer capitalista da coisa. Flamengo e Corinthians receberiam sempre fatias ridiculamente elevadas, mais até do que hoje se duvidar. Seria do total interesse das emissoras que eles sempre estivessem nas decisões, já que como tem as maiores torcidas, dão maior audiência. Isso seria mais evidente hoje do que nos anos 90, já que o poder de aquisição do brasileiro aumentou e o investimento no esporte também.  


Muitos argumentam que na época de mata-mata fomos bi-campeões mundiais. Vale lembrar que não tínhamos nem torneio nacional quando ganhamos nosso primeiro mundial, no segundo existia apenas a Taça Brasil e no terceiro era o Robertão. Foi com os diversos regulamentos entre 1971 e 2002, a maioria de mata-mata, que a Seleção Brasileira passou vinte e quatros sem um título de Copa do Mundo e dezenove sem título nenhum. Vale lembrar que com pontos corridos bem feitos, se formam ligas fortes, com equipes relativamente bem distribuídas, seleções nacionais bem equipadas de material humano. O Brasil sofre de uma terrível entressafra, apesar da geração de Neymar, Oscar e cia ser boa, sofreu um baque enorme em 2014 e isso pode afetar para o futuro da Canarinho, que vê a geração seguinte passar vergonha em torneios de base, como nos dois últimos Sul-Americanos Sub-20, sendo vice lanterna em 2013 e apenas quarto lugar nesse ano. 

Mata-mata é retrocesso não pela justiça que os pontos corridos trazem e sim porque não obriga as equipes a se prepararem e organizarem, freando um desenvolvimento do futebol nacional. Claro que estamos bastante aquém da Europa hoje, algo que não acontecia nos anos 90 dos mata-mata. Vale lembrar que os investimentos no futebol até o início dos anos 2000 não eram tão assustadores como hoje em dia. O Brasil, por exemplo, domina a América do Sul no futebol de clubes, e apesar de não termos tido nenhum finalista nas competições continentais no ano passado, e nenhum clube ir ao menos para a semifinal da Libertadores, o Brasil esteve em dezenove das últimas vinte e três finais da maior competição internacional do continente. Os times brasileiros só não estiveram na decisão em quatro delas, duas dessas finais nos tempos de mata-mata. Nos pontos corridos, por duas vezes a final foi entre Brasileiros. No geral de 1992 para cá, foram doze títulos, sendo doze clubes diferentes chegando na decisão, nove diferentes campeões, com vinte e duas equipes diferentes tendo participado. Apesar da Seleção enfraquecer, entre clubes, somos soberanos no continente e muito se deve a organização do atual sistema.

Por Luca Laprovitera

Compartilhe nas redes sociais

  • Share to Facebook
  • Share to Twitter
  • Share to Google+
  • Share to Stumble Upon
  • Share to Evernote
  • Share to Blogger
  • Share to Email
  • Share to Yahoo Messenger
  • More...
Scroll to top